Comportamento de manada nas eleições de 2018
- Ele Disse
- 19 de out. de 2018
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Por Anna Tenório
Apesar de ser comum ensinar as crianças a não imitar o comportamento das outras pessoas para que elas não reproduzam barbaridades, esse método tradicional tem se mostrado cada vez mais ineficiente. As ações, mesmo irracionais, de crianças, jovens e adultos esbarram na teoria do “comportamento manada”, explicado pela psicologia como a tendência dos seres humanos em seguir um grande influenciador. Na política, grandes líderes instigam essas ações porque tem a capacidade de passar confiança sobre aquilo que defendem ou de convencer toda uma geração a comprar suas ideias.
Foi assim em todos os períodos da história, e o comportamento coletivo sempre será reflexo da construção moral da sua contemporaneidade. Para isso temos exemplos bons: Jesus Cristo e Gandhi, e ruins: Hitler, Mussolini, Emílio Médici. A novidade da vez agora é que a Internet e as redes sociais criaram um novo conceito de esfera pública, um conceito que facilita a propagação de ideias e contribui para a ascensão de novos líderes, através da replicação em massa das suas ideias. O presidenciável do PSL carrega como uma de suas maiores características o desrespeito aos direitos humanos e o discurso de ódio às minorias e maiorias marginalizadas. No entanto, contrariando as expectativas da sanidade coletiva, o presidenciável não precisa esconder o discurso do preconceito para se promover, pois é onde ele se fortalece é com a propagação desses argumentos. Nas redes, suas frases correm soltas como se fossem exemplos a ser replicados. Para cada argumento grotesco, um comprometimento de alguém em votar no candidato.
Mas a ascensão do conservadorismo não é algo restrito ao Brasil. Em meados de 2010, com o aparecimento de escândalos de corrupção envolvendo governos progressistas na América do Sul, partidos considerados de “esquerda” começaram a ter seus governos questionados e aos poucos foram perdendo a confiança e apoio da população. No Brasil, o fortalecimento das igrejas neopentecostais contribuiu para uma revisão de valores e deu uma “nova roupa velha” aos chamados princípios cristãos.
Nas redes, através da ferramenta de compartilhamento é possível “repetir” o argumento já dado por outra pessoa, fortalecendo assim as ideias mais propagadas pelo senso comum e vindas de uma mesma fonte. Foram disponibilizados por militantes filtros para serm aplicados aos perfis dos eleitores no Facebook e peças gráficas para serem compartilhadas via whatsApp, Twitter e Instagram. E, mais uma vez, a cada compartilhamento de ideias e frases, mais uma declaração de voto “espontânea” no candidato.
No entanto, apesar das campanhas acontecerem a ferro e fogo nas redes sociais, o mesmo não pode se dizer aos debates televisivos. Uma vez que o candidato do PSL já anunciou que não irá participar de nenhum. Por conta disso, tanto Jair Bolsonaro quanto seus aliados tem alardeado que devem usar seu privilégio apenas para manter os votos que já conquistaram.
Nesta semana, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), principal articulador político de Bolsonaro em Brasília, disse a jornalistas na Câmara dos Deputados que os debates não são capazes de influenciar a opinião do eleitorado. "Escuta, vocês ainda acreditam que debate decide eleição? Não, né?", questionou Lorenzoni. Mas a ausência de Jair Bolsonaro na campanha não significa que não haja debate entre os presidenciáveis. Ainda que esse debate não seja exatamente de ideias, como se convencionou fazer na esfera pública tradicional, as redes sociais o assunto pega fogo. Apenas foi mudada a plataforma e aqui eles falam para quem de fato, querem lhes ouvir.
Sendo assim, após o ataque sofrido por Bolsonaro - ainda no primeiro turno - a campanha migrou completamente para o campo virtual, onde coincidentemente concentra a maior parte dos eleitores dele. A questão é que nas redes, a propagação de conteúdo depende de uma lógica matemática.
O algoritmo passa por um processo de aprendizado e fica armazenando informações sobre tudo que é acessado. Aprendendo sobre uma rotina de acesso, ele consegue traçar um possível perfil de cada internauta baseando-se no seu comportamento online. E já que o assunto é um computador, não precisa nem dizer que ele tem a capacidade de armazenar cada clique já dado. Como o Facebook e o Google lucram mais se passamos mais tempo conectados, as buscas que fazemos tanto no Google quanto no Facebook são direcionadas com a intenção de “agradar” os internautas e os manter conectados.
Tomando como base esse algoritmo capaz de armazenar informações e reproduzir conteúdos personalizados é mais fácil se direcionar notícias falsas ao público. Ao longo da campanha eleitoral, as preocupações explicitadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com relação a propagação de fake news, no início do ano, foram vigorosamente justificadas. Nesta semana, uma denúncia do jornal Folha de São Paulo apresentou um esquema de financiamento privado de campanha, onde afirmava que empresários financiaram disparo em massa de notícias caluniosas contra o Partido dos Trabalhadores (PT) para serem distribuídas via WhatsApp.
Ironia ou não, as denúncias sobre financiamento de mensagens de redes sociais como crime, venderam mais que água no deserto no Twitter e WhatsApp. As hashtags #Caixa2doBolsonaro, lançadas pelos grupos que criticavam a campanha do presidenciável de, supostamente, infringir a regra de ouro da legislação eleitoral - que é o não financiamento privado de campanha - conseguiu alcançar o mérito da mais comentada no Brasil e no mundo durante boa parte do dia 18 de Outubro. A hashtag, compartilhada exaustivamente, alcançou o primeiro lugar pela primeira vez, às 9h da manhã de ontem e até a noite, ela havia se mantido como uma das mais compartilhadas.
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